sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A Família Ovitz


Os Ovitz eram uma família de atores e músicos judeus que sobreviveram à prisão no campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial. A maioria deles eram anões. Eles eram a maior família de anões já registrados e foram a maior família (doze membros, incluindo desde um bebê de 15 meses de idade até uma mulher de 58 anos de idade) a entrar e sair vivos e intactos de Auschwitz.


A família Ovitz é originária de Maramures County, Romênia. Eles eram descendentes de Shimson Eizik Ovitz (1868-1923), um artista badchan (comediante erudito), rabino itinerante e anão. Foi pai de dez crianças no total, sete anões (afigidos com pseudoachondroplasia), fruto de dois casamentos.


Os filhos de seu primeiro casamento, com Brana Fruchter (ela era de estatura média), Rozika (1886-1984) e Franzika (1889-1980), eram ambas anãs. A segunda esposa de Shimson, Batia Bertha Husz, era de estatura média, e lhe deu os seguintes filhos: Avram (1903-1972) (anão), Freida (1905-1975) (anão), Sarah (1907-1993) (altura média), Micki (1909 -1972) (anão), Leah (1911-1987) (altura média), Elizabeth (1914-1992) (anão), Arie (1917-1944) (altura média), e Piroska (1921-2001), também conhecido como Perla (anão).


Batia deu à sua família um conselho que ficaria com eles para o resto de suas vidas, e que no final acabaria os salvando. Ela disse: "nos bons e maus momentos, nunca se separem, fiquem juntos. Protejam uns aos outros, e vivam uns para os outros". O único irmão, Arie, que não seguiu o conselho de sua mãe foi morto tentando escapar de um Campo de Trabalho húngaro, e sua esposa, sua filha recém-nascida e seus sogros foram mortos em Auschwitz.


Os filhos fundaram seu próprio conjunto, a Trupe Lilliput. Eles cantavam e tocavam músicas usando pequenos instrumentos, excursionando por toda Romênia, Hungria e Tchecoslováquia, de 1930 a 1940. Os parentes mais altos ajudavam nos bastidores. Os Ovitz cantavam em iídiche, húngaro, romeno, russo e alemão. Quando eles não estavam em turnê viviam em uma única casa com seus cônjuges.


No início da II Guerra Mundial havia 12 membros da família, sete deles anões. Quando a Hungria tomou o norte da Transilvânia, em setembro de 1940, as novas leis raciais proibiram artistas judeus de entreter os não-judeus. Embora os Ovitz fossem judeus praticantes, obtiveram documentos que omitiam o fato de que eles eram judeus, o que possibilitou suas turnês até 1944. Em 12 de maio de 1944 todos os doze membros da família foram deportados para Auschwitz. Um irmão mais alto escapou da deportação, mas mais tarde foi preso e executado.


Uma vez no acampamento, os Ovitz atrairam a atenção do médico do campo, o alemão nazista Josef Mengele (conhecido como o Anjo da Morte), que reunia curiosidades para suas próprias experiências sobre hereditariedade. Ele separou os Ovitz do resto dos reclusos para adicioná-los à sua coleção de cobaias. Ele estava curioso sobre o fato de que a família incluía tanto anões quanto membros mais altos. Onze outros prisioneiros alegaram ser seus parentes, e Mengele moveu todos eles para instalações separadas.

Josef Mengele

Querendo poupar o grupo de anões (porque eles eram mais difíceis de encontrar do que outros tipos de cobaias, como gêmeos), Mengele conseguiu que aposentos especiais fossem construídos para eles, afim que pudessem ser monitorados. Para mantê-los saudáveis ​​para suas experiências, cuidou para que eles tivessem mais condições de vida de higiene, melhor comida e as suas próprias roupas de cama. Mengele ainda permitiu-lhes manter suas próprias roupas, e obrigou os membros mais altos do grupo a levar os anões para os locais de experimentação .


Os Ovitz, como muitos outros prisioneiros do campo, foram submetidos a vários testes. Médicos de Mengele extraíram medula óssea e tiraram dentes e cabelos para encontrar sinais de doenças hereditárias. Eles jogaram água quente e fria em seus ouvidos e cegaram alguns com gotas químicas. Ginecologistas inspecionavam as mulheres casadas. O bebê de dezoito meses, Shinshon Ovitz, teve as piores provações, pois ele tinha pais mais altos e nasceu prematuro; Mengele extraiu sangue das veias atrás de suas orelhas e dos dedos. Os Ovitz também testemunharam dois anões recém-chegados sendo mortos e fervidos para que seus ossos pudessem ser expostos em um museu. Mengele também os filmou, embora esse suposto filme nunca tenha sido encontrado.


Eles esperavam se mortos quando Mengele terminasse seus experimentos, mas viveram para ver a libertação de Auschwitz em 27 de janeiro de 1945. O Exército Vermelho os levou para a União Soviética, onde viveram em um campo de refugiados por algum tempo antes de serem liberados.

Os Ovitz viajaram a pé por sete meses até chegarem em sua aldeia natal. Eles encontraram a sua casa saqueada, mudaram para a vila de Sighet e depois para a Bélgica. Em maio de 1949, imigraram para Israel, estabelecendo-se em Haifa, e começaram suas turnês novamente, sendo muito bem sucedidos e lotando grandes salas de concerto. Em 1955, aposentaram-se e compraram uma sala de cinema.

Documentário de 45 minutos sobre os Ovitz. Em espanhol.

Descendentes dos homens anões da família nasceram mais altos, mas as mulheres não engravidaram devido a suas pélvis muito pequenas. O primogênito dos anões, Rozika Ovitz, morreu em 1984, aos 98 anos de idade. O último anão sobrevivente da família, Perla Ovitz, adulto morreu em 2001.


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Priscila Menucci


Nascida em 1975, Priscila Menucci causou um certo alvoroço na família: ninguém sabia lidar com seu nanismo. Sem nenhum histórico na família, mas fruto de uma mutação genética, sua condição de anã exigiu de seus pais mais do que eles foram capazes de lidar: seus pais se separaram, e aos cinco anos ela foi morar com a avó.


Antes de entrar na escola sua avó foi conversar com a diretora, para que a menina sofresse o menos possível com as brincadeiras das crianças. Mas a adaptação foi boa, e Priscila teve uma infância repleta de bagunça. As crianças eram naturalmente curiosas, mas o preconceito vinha muito mais dos pais, que apontavam pra ela e diziam pros filhos "olha só a anãzinha!".


Dêem uma olhada no vídeo a seguir, onde ela conta como foi essa fase da vida, e como começou sua carreira como atriz:


Na continuação desse programa, Priscila mostra sua casa - que não é adaptada - e fala sobre como lida com a educação do seu filho - que como ela e o marido, também tem nanismo:


O bacana de acompanhar a vida da Pri através desses vídeos é que eu a sinto muito próxima: é uma mulher ativa, urbana - mora em São Paulo, bem humorada e sem frescuras. Nesse próximo vídeos ela vai pra rua fazer coisas absolutamente cotidianas - como fazer compras e pegar ônibus. Mas é incrível como tudo é bem mais difícil pra ela. Mas vemos pela sua atitude que ela se vira, pois não dá pra simplesmente se recusar a viver (ao menos essa não é sua intenção).


Como pode ser conferido, Priscila trabalhava na área de recursos humanos de uma empresa, quando conheceu dois anões que a convidaram para participar de um evento. Em poucos meses sua agenda já estava lotada de eventos e festas para fazer. Hoje ela já completa 15 anos de carreia artística. Paralelo a essa vida de atriz ela tem uma empresa de eventos, a Pituka. Nesse próximo vídeo ela fala mais sobre sua carreira de atriz (note bem a parte em que o marido diz que fazia parte do meio artístico, mas largou tudo para ir trabalhar assim que soube que ia ser pai).



Recentemente Priscila teve seu segundo filho.

Se vc gostou da Priscila, veja sua entrevista no site Deficiente Ciente, e também no blog O Povo tá Falando por Aí. E sobretudo a ótima entrevista no site Diversidade Humana, onde ela esclarece questões sobre sexualidade e maternidade.

sábado, 7 de setembro de 2013

Peter Dinklage


“Eu não gosto das pessoas sendo cautelosas e hesitantes em escolher suas palavras cuidadosamente em volta de mim porque eu sou um anão. Há um monte de gente com uma forma muito pior do que eu. Eu tenho 1,35m e faz parte de quem eu sou, mas não é tudo. Eu acho que a palavra para me chamar é meu nome, Peter”

Dinklage nasceu em Morristown, Nova Jérsei, em 1969, filho de Diane, uma professora, e John Cark Dinklage, um vendedor de seguros aposentado. Ele cresceu em Mendham Township, Nova Jérsei. Dinklage se formou na Delbarton School de Morristown em 1987, perseguindo seu futuro na atuação, e se formando no Bennington College em 1991.


Dinklage estreou no cinema em 1999 no filme Living in Oblivion, interpretando o papel de um ator anão frustrado que reclama de seu papel. O premiado The Station Agent de 2003 foi seu primeiro grande papel em um grande filme. Ele foi indicado ao Independent Spirit Award e ao Screen Actors Guild Award para Melhor Ator. Além de aparecer em filmes, Dinklage já estrelou muitas produções de teatro.

Cena do ótimo Vivendo no Abandono (Living in Oblivion), estréia de Peter no cinema.

E aqui o trailer do ótimo O Agente da Estação, onde ele é protagonista.

Também em 2003 ele apareceu em Elf, interpretando um autor infantil que bate no personagem de Will Ferrell depois de ser insultado. Em 2005, Dinklage estrelou a série Threshold da CBS e apareceu na comédia The Baxter. Em 2006 ele apareceu no drama Find Me Guilty, de Sidney Lumet, e em alguns episódios de Nip/Tuck. Ele também já interpretou a si próprio em um episódios da série Entourage e apareceu em um de 30 Rock.





Em 2007 ele teve um papel no filme Death at a Funeral. Ele também interpretou o mesmo papel no remake americano do filme. Em 2008, ele foi escolhido pelo diretor Andrew Adamson para o papel de Trumpkin no filme The Chronicles of Narnia: Prince Caspian, apesar do crítico Bill Gibron ter descrito seu papel como um "estereótipo bonitinho que [Dinklage] estava tentando evitar".


Em 2011, Dinklage começou a interpretar Tyrion Lannister na série da HBO Game of Thrones, adaptação da série de livros de fantasia A Song of Ice and Fire escritos por George R. R. Martin. Sua interpretação foi muito elogiada pela crítica especializada, com Ken Tucker da Entertainment Weekly afirmando "...se Dinklage não ganhar um Emmy por seu esperto e rude Tyrion Lannister, eu ficarei abismado", e Mary McNamara do Los Angeles Times dizendo que "Se o homem não ganhar um Emmy, cabeças certamente vão rolar". Em 2011, Dinklage venceu o Primetime Emmy Award de Melhor Ator Coadjuvante em Série Dramática, como também um Golden Globe Award de Melhor Ator Coadjuvante – Série, Minissérie ou Filme para Televisão em 2012. Como resultado, Dinklage passou a ser creditado em primeiro lugar nos créditos iniciais do programa.


Dinklage é casado com Erica Schmidt, uma diretora de teatro, desde 2005. Ele possui ascendência alemã e irlandesa, além de ser um vegetariano.


Ao ser perguntado em 2003 sobre sua altura, ele disse "Quando eu era mais jovem, definitivamente, eu deixava isso me levar. Como um adolescente eu era amargo e bravo e definitivamente construí muros. Porém, quando você vai ficando mais velho, você percebe que é necessário um senso de humor. Você sabe que o problema não é seu. É deles". Seus pais tem altura normal, como também seu irmão, Jonathan.



quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Billy Barty


Billy Barty (25 de outubro de 1924 - 23 de dezembro de 2000) foi um ator de cinema norte-americano. Na vida adulta media um metro e quatorze centímetros, e por causa de sua baixa estatura, ele era frequentemente escalado para filmes e episódios de tv, atuando ao lado de artistas mais altos. Era conhecido por sua grande energia e entusiasmo em qualquer produção da qual participasse.




De ascendência italiana, Barty, nasceu William John Bertanzetti, em Millsboro, Pensilvânia. De 1962 até sua morte, ele foi casado com Shirley Bolingbroke de Malad City, Idaho. Eles tiveram dois filhos, Lori Neilson e o produtor de cinema e tv Braden Barty. Barty e sua família eram membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (mórmons).


Ele contracenou com Mickey Rooney nos curtas mudos de Mickey McGuire, uma série de comédias infantis da década de 1920 similar no tom às comédias de "Our Gang" e "Little Rascals". Em The Gold Diggers of 1933, Barty, então com nove anos, apareceu no papel de um bebê que escapa do carrinho.




Em função de sua estatura, muito de seu trabalho consistiu de pequenas partes, embora ele tenha aparecido com destaque em The Day of the Locust (1975), W. C. Fields and Me (1976), The Happy Hooker Goes To Washington (1977), Foul Play e The Lord of the Rings (ambos de 1978), Under the Rainbow (1981), Night Patrol (1984), Legend (1985), Masters of the Universe (1987), Willow (1988), UHF (1989), Life Stinks e Radioland Murders (1994). Ele também fez uma notável interpretação do pianista Liberace. Ele se apresentou no grupo de comédia musical de Spike Jones nos palcos e na televisão.




Barty também estrelou um programa de televisão do Sul da Califórnia em meados da década de 1960, de nome "Billy Barty's Bigtop", que mostrava com frequência curtas d'Os Três Patetas. Um dos três participantes do grupo, Moe Howard visitou-o no programa na condição de convidado-surpresa. O programa deu a muitas crianças da região de Los Angeles a primeira oportunidade de se familiarizar com pessoas mais baixinhas, até então mais mostradas apenas como curiosidades.


Barty era um ativista notável para a promoção de direitos para outras pessoas com nanismo. Ele ficou desapontado com a insistência do contemporâneo Hervé Villechaize que afirmava que eram "anões", em vez de atores com nanismo. Barty fundou a Little People of America organização para ajudar as pessoas com nanismo em 1957, quando ele chamou as pessoas de baixa estatura para se juntar a ele em uma reunião em Reno, Nevada. Essa reunião original de 21 pessoas cresceu e se tornou Little People of America, um grupo que até 2010 tinha mais de 6.800 membros. Foi a primeira organização norte-americana para pessoas pequenas.

Billy Bart e Anões da América reunidos em Reno, 1957.



sábado, 17 de agosto de 2013

Tony Cox


Quem nunca se acabou de rir com esse cara precisa urgentemente abrir o torrent e baixar clássicos do porte de Eu, Eu Mesmo e Irene; Papai Noel às Avessas e Sexta Feira em Apuros. Com seu jeito mau humorado e turrão, esse americano nascido em 1958 foi construindo uma respeitável carreira em Hollywood, sendo reconhecido de imediato, mesmo quando é um coadjuvante.


Nascido em Manhattan, Nova Yorque, passou a infância em em Uniontown, Alabama, com seus avós. Conheceu sua futura esposa, Otélia, durante o ensino médio. Casaram em 1981, quando Tony tinha 23 anos.

Tony Cox tocava bateria desde os 10 anos de idade, e após o ensino médio foi para a universidade do Alabama para estudar música. Mas ele tocava de ouvido, e era incapaz de ler partituras. Isso fez com que ele não conseguisse ser admitido no curso.

PENITENTIARY II, Tony Cox, 1982

Pouco tempo depois Cox resolveu investir na atuação, inspirado pelo ator Billy Barty, também anão e fundador da organização Little People of America. Incentivado por parentes e amigos ele se mudou para Los Angeles aos 18 anos e começou a ter aulas de atuação.


Sua primeira participação no cinema se deu aos 22 anos, ainda com o nome de Joe Anthony Cox, em 1980, na comédia de horror Dr. Heckyl and Mr. Hype.  Participou de um filme do Cheech e Chong e algumas comédias, comerciais e programas de tv. Em 1983 ele foi um dos Ewoks no Star Wars - O Retorno de Jedi (ele interpretou o Ewok Widdle Warrick, que também aparece em Caravana da Coragem e A Batalha de Endor). Participou também de Willow - Na Terra da Magia.

Pra quem quiser uma tarde agradável, taqui os dois filmes com a dublagem original.


Os dois clipes a seguir, o primeiro do Eminem, e o segundo do Snoop Dogg, tem a participação de Tony Cox.



Bem, é isso. A seguir, algumas imagens de filmes em que ele participou.








Gigantes do Norte

Antes de começar a ler, veja o vídeo. É curtinho, e dá uma boa ideia da dinâmica do time.


Passei um tempo tentando escrever um texto sobre este que foi o primeiro time de futebol do mundo formado exclusivamente por anões (foi, pq, como direi mais pra frente, houve um racha na equipe). Mas enfim, há um texto feito em 2010 para a revista TRIP, do jornalista Caio Ferretti, que está tão bom que resolvi ser um canalha picareta e colar o texto dele aqui no blog. Espero que ele não fique puto. 



Foto: Érico Hiller

"O calção deveria ficar um pouco acima do joelho, mas como não foi feito sob medida quase toca as chuteiras número 30. O meião, que nem é tão grande assim para merecer o aumentativo, fica encoberto e praticamente não aparece. Assim, é impossível saber se as minicaneleiras estão devidamente colocadas. A camiseta vermelha com detalhes verdes é a menor possível, tamanho infantil, mas quando a manga não está dobrada alcança as correntes que ocupam os pulsos. Mas nada disso impede que a bola seja muito bem tratada. Bola, aliás, que no tamanho oficial chega quase na altura do joelho. Um chute com o peito do pé é basicamente um chute com a canela toda. Problema? Nenhum, Vagner Love tira todas as adversidades – e os adversários – de letra. Ele e todos os outros jogadores do Gigantes do Norte, de Belém do Pará, o primeiro time de futebol de anões do mundo.



Foto: Érico Hiller

Vagner Love, no caso, é Casemiro Leal. Tem 1,20 m de altura e quando tem a bola nos pés castiga os outros times. “Meu tamanho ajuda a driblar, principalmente quando o cara é bem grande. Já meto a bola debaixo das pernas, deixo deitado e mando bailar”, diz sem se preocupar com a modéstia. E você passa junto com a bola? “Não, não! Só a bola. Se eu passar ele me prende entre as pernas. E, aí, como é que vai ser o negócio?” Aos 26 anos, ele é a estrela do time – e se comporta como tal. Óculos escuros, correntes no pescoço, marra no jeito de andar e discurso de craque camuflam a simplicidade de quem já ouviu muita piada por causa do tamanho. E, se a ideia é ser comparado ao atacante do Flamengo, ele incorpora o personagem para comentar o jogo em que o time carioca eliminou o Corinthians da Copa Libertadores da América. “O Ronaldo que me desculpe. Ele até meteu um gol de cabeça, mas o Vagner é do Império do Amor. Deixou na área é pênalti. Aí, já viu, caiu pra esquerda, direita, é gol. Vagner acabou com o Corinthians.”


alguns lances do time
Mas Vagner, o Casemiro, não é o único jogador com pinta de famoso no plantel do time de Belém do Pará. Para tabelar com ele entra em campo praticamente uma seleção inteira formada por minissósias, com Adriano Imperador, Ronaldo Fenômeno, Robinho, Cafu, Petkovic, Kaká, Mineiro e Romarinho. “Nossos sósias são bem melhores que os verdadeiros. O Vagner do Pará dá show, é ambidestro, sobe na bola e é veloz”, comenta o Dunga do time, o treinador Max Goiano. Curiosamente, o único nome alterado para o diminutivo foi o de Romário. Michel Alves, o Romarinho, comenta com personalidade de jogador tetracampeão a alcunha que recebeu. “Acho que a principal diferença entre nós é só o tamanho. E um pouquinho de futebol. Falta muito, mas eu também chego aos mil gols.” E quantos você já tem? “Por enquanto três.”

Foto: Érico Hiller
O pontapé inicial do Gigantes do Norte aconteceu em 2007. Na época, o anão Alberto Jorge, conhecido como Capacidade, era mascote do time paraense Tuna Luso, mas queria ser mais. Com apenas 1,30 m, mas muita habilidade, ele conseguiu convencer o técnico da equipe profissional, Carlos Alberto Lucena, a deixá-lo participar de alguns treinos. Num desses encontros surgiu a ideia de formar o time de futebol só com anões. Capacidade, que além de mascote também trabalhava em um programa da televisão local, aproveitou o espaço na telinha para convocar interessados em integrar o time. Bastou uma chamada para que míticos sete anões aparecessem. “Quando vieram 15 começamos a treinar na metade do campo. Agora já somos 22, e o campo inteiro é pequeno pra nós”, diz Capacidade.

Foto: Érico Hiller
As tradicionais piadas viraram cumprimentos nas ruas de Belém e nas cidades do interior em que o time é convidado para jogar. “Agora eles têm até acompanhamento com psicólogo, porque antes não estavam acostumados a ter todo esse contato com o público, a dar autógrafos e a posar para fotos”, conta o preparador físico Wendel Lira. Resultado da fama: marias chuteiras. Vários jogadores do time arranjaram namoradas durante as “turnês” pelo interior do Pará. E não pense que elas também são anãs. “Conheci a minha em Castanhal. Cheguei pra ela e falei: ‘Prazer, eu sou o Vagner Love do Gigantes do Norte. Gostaria de namorar você’”, conta. E ela te acompanha nos jogos? “Não gosto de levar. Prefiro andar mais solteiro pra dar umas piscadas pras gatinhas que conhecemos.” E logo retrocede: “Mas eu sou fiel, viu?”.

Foto: Érico Hiller
Fomos conferir esse assédio e saímos na noite de Belém com alguns jogadores do Gigantes. A noitada seria em um pagode com show ao vivo e regado a cerveja. Adriano, o jogador do Flamengo de famosas baladas no Rio de Janeiro, estava ali representado por sua versão em miniatura. As evidências da fama apareceram quando uma morena abandonou três homens de 1,90 m cada um para tietar, ou melhor, agarrar os anões. A moça só parava de dançar com eles para que os pedidos de foto fossem atendidos. E foram muitos. Um reconhecimento que veio até da banda que estava em cima do palco: “Eu queria agradecer o pessoal do Gigantes do Norte, que leva a bandeira do Pará pro país todo e está aqui hoje fotografando para uma matéria!”.

Os jogos do Gigantes do Norte são sempre atração nas cidades em que passam. Como eles ainda não encontraram outra equipe de anões para encarar no campo, as partidas são amistosos festivos contra times sub-15, meninas ou masters. Mas eles não costumam ter vida fácil. “O pessoal joga duro contra nós. Sabe o que é? Eles não querem perder pra anões, porque aí fica feio. Jogamos em cidades pequenas e todo mundo vai tirar sarro depois”, explica o treinador. Mas nada disso impede que o time vença quase todas as partidas. E com direito a goleadas tão largas quanto as aplicadas ultimamente pelos meninos da Vila – inclusive com dancinhas pra comemorar quando a rede balança.

Foto: Érico Hiller

Os empecilhos que a estatura impõe são driblados com a inteligência. “Quando acontece uma falta contra o nosso time um sobe em cima do outro pra fazer a barreira. Assim o cobrador perde um pouco da visão do gol”, revela Max Goiano. Em caso de escanteio a favor, a tática é a mesma: montar no companheiro. Uma jogada extra ensaiada na tentativa de anotar um gol de cabeça. “Eles já estão bastante práticos, são muito rápidos tanto pra subir quanto pra descer. A torcida vai ao delírio nessas horas.”

Foto: Érico Hiller

O entusiasmo do público, contudo, não tem se convertido em apoio financeiro para o clube. Mesmo com a agenda de jogos cheia nenhum patrocinador se interessa em estampar a marca na camiseta do Gigantes do Norte. Toda a renda vem dos cachês pagos por quem convida o time para jogar. O que banca no máximo a alimentação e o transporte dos atletas. Nos tempos de vacas gordas cada um chegou a receber R$ 500 mensais, mas a fonte secou em alguns meses. Mesmo assim ninguém pensa em deixar a equipe. Por ali todos sabem que o verdadeiro pagamento é poder andar pelas ruas sendo chamado de gigante."



Bem, o texto do Caio termina aí. Pelo que pude constatar, o time passou por alguns problemas em 2012. Brigas internas fizeram com que houvesse um racha no time, incluindo a saída do treinador Carlos Lucena e de parte do elenco. Os motivos se contradizem. Alberto Capacidade afirma que Lucena não dividia o dinheiro igualmente entre os jogadores, ficando sempre com a maior parte, além de tomar decisões sem discutir com a equipe. Lucena, por sua vez, diz que Capacidade criava intriga entre os jogadores sempre que ele não estava perto.

No fim das contas, ficou assim: Lucena foi em busca de novos talentos e montou o Gigantes do Norte 2, com 16 anões, com destaque para Loco Abreu, o único anão japonês do Brasil.

Loco Abreu (esq.) e Neymar (dir.)
Quanto ao Gigantes do Norte, Capacidade foi atrás de patrocinadores para profissionalizar o time. Nem cnpj tinham! Foi então que o empresário Relton Osvaldo surgiu pra se tornar presidente do clube. Contratou um treinador, e a equipe treina 2 vezes por semana num campo society da cidade. Mas a previsão é de que em 2013 eles tenham um campo só pra eles.  

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